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quinta-feira, 31 de maio de 2007

MONTAGEM IMAGENS CONCEITUAIS






Exposição Fotográfica
IMAGENS CONCEITUAIS
SÃO LOURENÇO DO SUL
PROJETO IX - FAURB/UFPEL

De 29 de maio a 12 de junho de 2007
O Projeto arquitetônico e de desenho urbano realizado em São Lourenço do Sul, no bairro denominado “A Lomba”, vem buscando imagens conceituais para o desenvolvimento de seus projetos. O grupo vem produzindo uma série de imagens conceituais, a partir de desenhos, textos, fotografias digitais, colagens, assemblages, maquetes, performances e vídeos. As imagens conceituais são imagens que não admitem silêncio. São imagens que estão eternamente ligadas, o tempo todo, falando coisas sem sentido. São imagens que devassam. Como a voracidade do tubarão, assinalada por José Miguel Visnik, porque o tubarão não tem pálpebras. Então são imagens que ficam eternamente de olho aberto, ligadas. Essas imagens cartografadas são conteúdos para mapas conceituais e mentais, que em breve irão transmutar-se em mapas visuais, ou projetos. Precisamos fazer pensar. O que me faz pensar a arquitetura. O que? Como? Por quê? Para que? Onde? Quando? Quem? Daí emerge um conhecimento do sensível, de perceptos e afectos. Criando conceitos mais próximos da filosofia de Adorno - do não idêntico, do que não cabe a esquemas prévios, do que os da tradição intuicionista de Bérgson ou Husserl. Pretendemos pelo conceito, ultrapassar o próprio conceito. Assim como na arte conceitual de Marcel Duchamp, onde o conceito ou a atitude mental tem prioridade em relação a aparência da obra. Para Deleuze: Criar é ter uma idéia. É muito difícil ter uma idéia. Há pessoas extremamente interessantes que passaram a vida inteira sem ter uma idéia. Pode-se ter uma idéia em qualquer área. Não sei onde não se devem ter idéias. Mas é raro ter uma idéia. Não acontece todo o dia. Um arquiteto tem tantas idéias quanto um filósofo, mas não se trata do mesmo tipo de idéia. O arquiteto é uma pessoa que pode criar perceptos. Os perceptos fazem parte do mundo da arte. O que são perceptos? Perceptos não são percepções. Percepto é um conjunto de sensações e percepções que vai além daquele que sente. De certa forma um percepto torçe os nervos e podemos dizer que os impressionistas inventaram os perceptos. Cézanne disse uma frase que acho muito bonita: “é preciso tornar o impressionismo durável”. Ele quer dizer que o percepto adquiriu uma certa autonomia, ainda maior. É o que se pode chamar de afectos. Não há perceptos sem afectos. Os afectos são os devires, são devires que transbordam daquele que passa por eles, que excedem as forças. São potências. Isso é possível na arquitetura?

O que são arquiteturas do abandono?

As arquiteturas do abandono compreendem desde edificações desabitadas, ruínas, restos de construção como também favelas, resíduos, sujeitos excluídos e tudo que até o desprendimento da matéria poderá nos levar a sentir e a pensar.
Num primeiro momento, apenas uma casa abandonada, em qualquer lugar, vizinha a tantas outras, nossa vizinha. Por ela, passamos todos os dias, caminhamos pela rua, a qual também acumula a sujeira, os restos, o capim. Tudo ao redor dessa casa, saindo pelas frestas, ruindo o reboco. A casa lar que antes abrigava uma família, agora se abre aos desabrigados, aos vagabundos, aos bandidos. Abandona-se ao bando.
Uma fábrica abandonada ou uma fábrica que abandonou muitos, uma enorme massa construída, onde o trabalho parou, mas sente-se ainda o movimento dos operários e o som das máquinas. Das máquinas enferrujadas que não produzem mais nada, apenas as carcaças envoltas em teias de aranha, recoberta por muita poeira. A poeira que entra pela boca, que resseca, que nos cega a vista, que esfuma. Fábrica abandonada por todos, mas que deixa toda a sujeira para trás, dos restos radioativos que podem provocar doenças, até os resíduos que servem de ganha pão para outros. Tudo arruinando e curando: fábrica, máquinas, resíduos, pessoas.
Todo o resíduo e entulho podem escorrer, migrar de um lugar para outro, pingar, deixar-se levar, contaminar o que não é abandonado, assim como o movimento de abandonar, de deixar alguma coisa em detrimento de outra. No edifício, a função vai embora e fica a forma abandonada.
Matar ou curar. Finito e infinito ao mesmo tempo. O tempo dos abandonos pode ser longo como o de uma ruína ou rápido como o de uma implosão. Difícil de ser medido e quantificado. Tudo pode ocorrer numa fração de segundos ou lentamente, como se não passasse de uma longa espera. Abandonar é largar a deterioração ao apodrecimento, ao mofo.
Também um resto de parede que teima em ficar de pé, que teima em permanecer. Mesmo com a chuva e o vento que lavam, dentro e fora, teimem em abatê-la. Uma ruína, um resto arruinado, não aquela ruína histórica, mas uma ruína fruto da supressão da própria história. Uma superfície arenosa e abandonada, transformada em deserto em meio à vida cotidiana das cidades.
Uma cidade é repleta de abandonos, por todos os lados, e de abandonados também. Eles estão ali perambulando pelas ruas, pelas calçadas, adentrando edifícios abandonados, encontrando-se, cara a cara conosco, Ás vezes desviamos, pulamos sobre eles, os abandonados cheiram mal, faltam-lhes dentes, e todos os objetos de consumo que tanto ansiamos.
O campo de ação das arquiteturas do abandono é amplo e, muitas vezes, caótico, abarca a matéria e a imatéria. Abandonamos materialidades, prédios, ruínas, restos, objetos, coisas, tudo o que possamos tocar, roubar, quebrar ou assassinar. Tudo muito elementar, muito óbvio.
No entanto, abandonos são também imateriais, do campo, do que não podemos mensurar. O abandono imaterial é do campo dos sentidos, dos desejos ou das sensações. Só há abandono material, porque há abandono imaterial, um se alimenta do outro. É corpo, é alma. As arquiteturas materiais do abandono podem ser as forças que nos sacodem para os abandonos imateriais. Como nas artes visuais ou na música, que atravessam nossos corpos. Abandonos também são capazes de desencarnar dos corpos arquitetônicos e habitar a fronteira, o escape, a fuligem.